Faço esta dedicatória oportunista aos diáconos da Diocese de Tete, por ocasião da ordenação sacerdotal de mais dois diáconos no dia 18 de Agosto de 2024, na minha Alma Mater, antigo Seminário do Zóbwè, hoje Santuário gêmeo do de Boroma.
Não pretendo traçar as origens do vosso oficio, mas vou fazê-lo, não tanto para vossa memória, como mais para a nossa memória coletiva, nós testemunhas da vossa dedicação que ora começa; para enquadrar e legitimar firmemente na bíblia sagrada a epistemologia do vosso oficio nobre.
Não se trata sequer de uma lição de bíblia, mas sim de uma oportunidade festiva para reafirmar e exteriorizar a nossa fé no valor missionário do ofício ao qual ora dedicais a vossa vida. Passais a ser daqui em diante, a pessoa que eleva a nossa voz ao Senhor, e a pessoa que interpreta a voz do Senhor para nós, a multidão de seguidores, seara aberta a vós trabalhadores do Senhor.
Por esta razão, assento a minha dedicação no livro bíblico dos Números, do qual vou reproduzir passagens selecionadas.
O oficio sacerdotal começa historicamente muito cedo no livro do Êxodo, durante a deriva do povo de Deus no deserto do Sinai durante 40 anos. É um oficio que começa com Aarão e sua família, e se estende à tribo dos Levitas, dedicada a este oficio por Moisés, sob indicação divina. Durante o exílio no Egipto e durante a sua caminhada pelo deserto, antes de chegar à terra prometida, Deus falava ao povo através de Moisés e Abraão. Deus passou os seus mandamentos a Moisés, que os trouxe de volta ao seu povo, só para descobrir que o seu povo, um pouco desesperado por uma vida difícil no deserto, enganou Aarão a fabricar um bezerro de joias, o qual passaram a adorar (Êxodo 32). Conta a bíblia que Moises ficou zangado com esta cena e quebrou as pedras dos mandamentos, e só pode trazer de novo os mandamentos numa tábua de madeira, da segunda vez que se encontrou com Deus. Uma história complicada.
Quem já trabalhou no deserto como eu, compreende que aquele ambiente de ar quente e seco é mesmo de provocar alucinações nas pessoas. Assim o povo de Deus ficou confuso. Uma verdadeira epopeia cheia de dramas. Vós diáconos estais preparados para trabalhar em condições humanas complexas e confusas. Esperamos orientação espiritual.
Enfim, todo o Êxodo representa o desenvolvimento de relações entre Deus e o seu povo eleito, através da representação diplomática de Moisés e do Consulado dos Levitas. O leitor terá notado que quase todos os capítulos começam com a frase: “O senhor disse a Moisés”. No desenvolvimento das relações entre Deus e nós, os nossos Cônsules perante Deus sois vocês.
Atrás, dizia eu que a ordem do sacerdócio foi confiada aos levitas. Êxodo 28, 1 reza o seguinte: faz vir junto de ti, do meio dos Israelitas, teu irmão Aarão com os seus filhos para me servirem no oficio sacerdotal: Aarão, Ndab, Abiu, Eleazar e Itamar, filhos de Aarão.
Igualmente, o livro dos Números (3: 5-10) confirma que os Levitas são a tribo dedicada ao oficio do sacerdócio para o povo de Deus: NÚMEROS 3: 5-10:
5. O senhor disse a Moisés,
6. Manda vir a tribo de Levi e apresenta-a ao sacerdote Aarão para servi-lo.
7. Os Levitas se encarregarão de tudo o que foi confiado aos seus cuidados e aos de toda a assembleia, diante da tenda de reunião: assim farão o serviço do tabernáculo.
8. Cuidarão de todos os utensílios da tenda de reunião e do que foi confiado aos cuidados dos israelitas; e farão assim o serviço do tabernáculo.
9. Darás os levitas a Aarão e seus filhos. Eles serão escolhidos dentre os filhos de Israel para serem inteiramente dele.
10. Estabeleceras Aarão e seus filhos para exercerem o ministério sacerdotal. O estrangeiro que se aproximar do santuário, será punido de morte.
Neste momento exaltado e exaltante da vida da Diocese, queria primeiro endereçar a minha dedicatória aos novos sacerdotes, que se juntam aos sacerdotes já consagrados, e reafirmar as expectativas do povo cristão, e curiosamente também do povo não cristão, no que diz respeito às qualidades exigidas do ministério que ora passam a exercer de direito (e de dever, na realidade): elas se resumem nas virtudes de abnegação, de humanidade sublimada que nós outros não conseguimos imitar. Fazei-lo por nós.
Finalmente, longe de mim apontar para o dever de obediência ao vosso bispo. Mas ele precisa da vossa solidariedade na ação. Este dever está também enraizado na mesma bíblia (Num, 3: 32), que descreve o Bispo Eleazar, como o Príncipe do Príncipes dos Levitas, o qual tinha a superintendência sobre os que velavam pela guarda do santuário.
Para concluir, continuo inspirado pela expressão “Sal da Terra, Luz do Mundo” (Mat. 5, 13-16).
Boa caminhada.
Canhandula, A. Jose
Tete, Julho de 2024