Esta é apenas uma reflexão pessoal, fruto de momentos em que olho no retrovisor do meu serviço público, no conforto, quietude e retiro da minha reforma. E disse eu cá de mim para mim: porque não partilhar com aquela/es Moçambicana/os que ainda se debatem com o oficio de direção, e que procuram passar de chefes a diretores, de diretores a dirigentes, e de dirigentes a líderes de equipas? A minha experiência prova que o líder não é necessariamente o mais brilhante do grupo, (até seria mau para a coesão da equipa se assim fosse).
E ficou provado como cimento argamassado que se alguém segue o chefe para o elogiar como o mais inteligente, o mais iluminado, esse está a destruir o dirigente e a impedi-lo de ser líder de homens. Por isso, o/a chefe não se deve apoquentar por ter na sua turma pessoas mais inteligentes do que ele/a. Ao contrário, use os/as mais inteligentes para reforçar a equipa, e reconheça as suas contribuições.
Eu sempre me achei muito sortudo na vida, apesar de todas as vicissitudes. Tive uma educação acima da média do total das vivencias da minha aldeia. Tive muito apoio de pessoas alheias a minha família biológica. E sempre trabalhei em profissões que me deram satisfação moral e crescimento intelectual contínuo.
Primeiro, como professor em Chimoio: mais do que dinheiro, a minha satisfação profissional foi acompanhar a evolução na vida, do estudante que se formou graças à minha contribuição também. Quanto ao dinheiro, na função de professor fui sempre tão pobre como um rato da sacristia; o dinheiro não era tão importante como a simples satisfação de ser professor. Ainda era solteiro.
Segundo, como funcionário júnior no Ministério dos Negócios Estrangeiros em Maputo: Exposto frontalmente às relações entre países, às forças regionais e internacionais que determinam a posição do nosso país: fiquei impressionado pela posição clara e anti-imperialista, pela solidariedade firme e inequívoca do nosso país com os povos em luta, como foi a nossa experiência: África do Sul, Rodésia do Sul, Namíbia, Sahara Ocidental, Palestina, etc.
E em terceiro lugar como funcionário público internacional. Basta dizer que trabalhar no sistema das Nações Unidas não me deu apenas satisfação pessoal a todos os níveis. Deu-me também a oportunidade de viajar, apreciar, compreender outras culturas e saber tolerar maneiras diferentes de ser e de agir, e de exprimir orgulho de pertencer ao meu país, apesar das nossas dificuldades. Acima de tudo, deu-me a oportunidade de representar o Alto Comissário para os Refugiados em cinco países. Ser o chefe de grandes equipas e tomar decisões com impacto verdadeiro na vida de centenas de milhares de refugiados e deslocados internos, de algumas ONGs e sobretudo com impacto na vida e carreira do pessoal confiado ao meu cuidado pessoal, exigiu de mim muito equilíbrio entre emoções, discernimento e inovação. Mas onde aprendi mesmo, mesmo, a arte, a empatia e a importância do exemplo do líder, foi na minha função de liderança de nível médio, Representante Adjunto em Congo-Kinshasa e em Nairobi-Kenya. Ao longo deste caminho e através de esforço pessoal, eu senti que estava a passar de chefe a dirigente e de dirigente a líder. Aprendendo e adaptando lições, incluindo de erros graves, consegui passar a ser guiado por princípios que sintetizei e adoptei, fazendo-os parte do meu plano anual de trabalho, 6 anos como Adjunto e 12 anos como Representante.
Gostaria, pois, de partilhar com o caro leitor esta parte das minhas experiências, na esperança de que possa servir de referência à medida que vosmecê for assumindo funções que exigem a arte de liderança.
E começar por dizer que o gosto pela liderança não está no prestígio, nem nas regalias, nem no poder nu e cru, mas na capacidade de implicar e manter coesa a equipa em redor de objetivos comuns, de validar e apreciar as diferentes capacidades e procurar complementaridades, e de transmitir positivismo e satisfação profissional, através do exemplo pessoal.
Foram princípios que me nortearam e reforçaram a minha aceitação como líder, por parte de quem teve o azar de ter que trabalhar sob a minha alçada. Como eu, você tem a oportunidade única de ação positiva contundente. Por isso, use dessa posição para:
Criar Transparência e ao mesmo tempo desenvolver a Confiança.
Falar direito e Direto e ao mesmo tempo e SEMPRE, demonstrar Respeito a todos os níveis (nunca beijar ninguém com uma mentira, subordinado ou superior).
Confrontar a Realidade e clarificar Expectativas (o foco deve ser sempre a mensagem e não quem traz a mensagem).
Assumir Responsabilidade e demonstrar Lealdade e atitude Positiva para com a equipa.
Corrigir erros; primeiro Escutar, nunca procure ser o herói do grupo.
Apresentar Resultados, guardar Compromissos, e ter a coragem para Tomar iniciativas e Inovar (um navio está mais seguro atracado ao porto, mas essa não é a finalidade da construção de navios, não acha?)
Melhore-se sempre através da aprendizagem contínua (a aprendizagem termina no dia da morte).
Espero que este artigo o inspire. Sobretudo, tenha em conta que a melhor parte da sua prestação vem de cerca de 20% do seu esforço, e os restantes 80% do esforço só produzem 20% do seu sucesso[1].
Canhandula, A. Jose
Tete, Julho de 2024
[1] https://rockcontent.com/br/blog/principio-de-pareto/