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O QUE APRENDI DA VIDA

Estou rapidamente correndo para Novembro, altura em que atinjo os 68 anos.  Para um Moçambicano, isto é uma vitória, a julgar pelo que se diz sobre a média de esperança de vida no nosso país.  Assim, um dos pensamentos que quero dedicar a vocês neste mês é uma lista de lições que ganhei na vida, e que podem inspirar o leitor.  Tente o leitor ver em que medida pode usar da sua vida e das suas oportunidades para atingir alguns dos seus sonhos.  Muitos sonhos não passam disso, mas com uma certa dedicação, esforço, ajuda, e sorte, algo sempre se pode alcançar.


Se você puder realizar, de uma lista de dez sonhos, apenas dois, considere-se vencedor.  Se pelo contrário, não tiver nenhum, nunca contará vitória, evidentemente. Nem a si, nem a mais ninguém.


Este meu inventário não é exaustivo.  Evitando fazer um historial, optei por apenas um apanhado de temas, para não ser chato nem me pavonear.  Assim, vou agregar as minhas experiências por etapas, como se segue:

Moçambique

1956-1981

1982-1984

1986-1989

2021- (reforma)

  1. A disciplina é uma atitude pessoal.

  2. A música é o sangue da alma. O ditado Ngoni diz: “ukaipa, dziwa nyimbo ngati mbalame”, em Português, largamente traduzido significa: se não fores tão bonito, ao menos que saibas cantar que nem um passarinho (para chamar a atenção de…)

  3. A mãe é muito mais do que a pessoa que dá à luz (seria demasiado fácil): mãe é a pessoa que dá amor e protecção. Diga-se o mesmo do pai. 

  4. Trabalhar duro compensa. 

  5. Línguas: o  Nyanja, o português, o Francês, o Inglês e o Latim (morto).  

  6. Solidariedade internacional: campanha pela libertação de Mandela, apoio ao combate do Zimbabwe e da África do Sul. 

  7. Professor, a profissão mais alta e sublime (mesmo que o professor seja tão pobre como um rato da sacristia).

  8. A oportunidade de viajar fora do país nunca se deve desperdiçar.

Tanzânia

1980-1981

1994-2000

2019-2021

  1. A diplomacia é importante para o equilíbrio entre nações com interesses diversos.

  2. O Swahili, mais uma língua (já ouviu falar no “lost in translation”?). Quanto mais línguas, melhor.

  3. O sentido africano de solidariedade na família e na comunidade.

  4. O orgulho natural do Africano.

  5. A meiguice e o papel estabilizador da mulher na família.

  6. A questão de terras constitui um elemento das relações com o capital internacional[1] sobre a qual o estado africano deve estar sempre alerta.

Etiópia

1984-1986

  1. A história de África é muito mais complexa e rica do que os livros de história colonial nos querem fazer crer (história é a versão dos factos do ponto de vista do mais poderoso).

  2. Todo o diplomata africano (profissional do Ministério dos Negócios Estrangeiros) devia estagiar na sua Embaixada na Etiópia, para tomar um banho-maria de diplomacia multilateral.

Cote d’Ivoire

1991-1992

  1. Autodidata, colector de livros e constituição de uma biblioteca de leitura pessoal.

  2. O verdadeiro sentido de acolhimento e assistência ao refugiado em comunidade acolhedora. Evitando campos, outros seres humanos não são isolados como um problema, mas assimilados como semelhantes.

  3. Enraizamento do interesse colonial francês faz deste país a capital africana da continuação do colonialismo.

Angola

1992-1994

  1. O gosto pela música e pelo ritmo.

  2. A dedicação e o sacrifício pelo grupo. 

  3. A especialização pessoal na vida, base de todo o sucesso. 

  4. O gosto de viajar.  Nunca viajar sem um livro.

Zâmbia

2000-2003

  1. Não só trabalhar, mas também encontrar formas de distensão: Visitar as cataratas de Victoria sobre o rio Zambeze é um marco da vida. 

  2. O sentido da pertença africana mais ampla; também existe a nação Ngoni na Zâmbia (sediada em Mkaika, Distrito de Katete, Provincia do Chipata).

  3. Tomar iniciativas de inovação individual dentro da autoridade conferida, e tomar riscos faz parte de uma carreira inspiradora, brilhante e promissora.

Suíça

2003-2006

2012-2014

  1. A pontualidade é importante e sinal de respeito por si e pelos outros. 

  2. A universalidade humana é irrepressível e irrefutável, apesar da inutilidade e dos efeitos nefastos de um racismo anti-Africano persistente.

  3. As organizações internacionais são instrumentos de um ordenamento internacional não equitativo. 

  4. Necessidade de tolerância humana. 

  5. O relacionamento complicado e desequilibrado entre estados é reforçado por instituições internacionais tais como a Organização Mundial do Comércio e outras, que perpetuam um mundo injusto condenado à violência e à guerra.

  6. Posição subordinada de África reforçada por poderes internos, alimentados pelo suborno internacional ao Presidente, incluindo acesso aos paraísos financeiros a título muito individual e bajulador. 

  7. O poder das multinacionais e a nossa falta de arte de negociação.

  8. Passar pela sede da organização ajuda na evolução da carreira.  Ser conhecido depende da diplomacia pessoal, da qualidade do trabalho e da astúcia política refinada. 

  9. A solidariedade entre colegas nota-se muito facilmente e colegas nunca se esquecem de uma mão dada em períodos críticos da sua vida.

Congo Democrático

2006-2008

  1. Está neste momento decorrendo uma terceira missão de paz das Nações Unidas (1960-1964 e duas de 1999 até hoje). A que ponto as Nações Unidas fazem parte da solução?

  2. Papel negativo dos países vizinhos (Uganda, Ruanda), agentes do imperialismo neocolonial.

  3. A música é o sangue dos povos deste país. 

  4. Um grande país deve adoptar uma forma de governação descentralizada, corajosamente federal, para que a ação do estado se faça sentir ao nível do Distrito e da localidade.

  5. Países pequenos tais que o Ruanda, olham para o Congo como a solução para o seu problema demográfico.  Desígnios não declarados que perpetuam a guerra sob a forma de exploração de recursos.  Para compreender, faça-se a seguinte comparação das densidades populacionais: DR Congo 48 pessoas/Km2, Moçambique 44 pessoas/Km2, Ruanda 578 pessoas/Km2. 

  6. A questão da terra em toda a África é a cobiça dos interesses estrangeiros[2] que urdem programas de todas as espécies, desde a conservação até ao crédito de carbono e energia verde.

Quénia

2008-2011

  1. Juventude extremamente empreendedora.

  2. O tribalismo e a pertença étnica como arma de uma elite com mentalidade fortemente colonizada que continua a governar através da divisão, lição aprendida do colono. 

  3. Interesses estrangeiros olham para o Quénia como ponta de lança para projectos coloniais irrepressíveis na África Oriental, da mesma forma que a Cote d’Ivoire na África Ocidental, e mais um país na África Austral, e o cerco está fechado.

  4. Questão da terra fundamental para a continuação do colonialismo.

  5. A terra, cobiça de potências estrangeiras camufladas em ONGs preocupadas com o nosso meio ambiente[3].

Serra Leoa

2011-2012

  1. A guerra deixa desolação e reforça o subdesenvolvimento.  É uma arma de desgaste que o Ocidente vai utilizando contra nós de tempos a tempos para nos desgastar e frustrar o nosso desenvolvimento. 

  2. Fechar uma operação de refugiados com vários escritórios requer um espírito humano e tempo para compreender o impacto de decisões de chefe

Níger

2012

  1. Nunca corte uma corda, se a puder desatar.  Vai precisar dela mais tarde. O fecho do nosso escritório não foi estratégico, o que me valeu conflitos na reabertura, com a nova vaga de refugiados do Mali.

  2. As agências das Nações Unidas estão em competição umas contra as outras, encorajados  à competição por doadores, Isso também marca negativamente as percepções dos estados com os quais cooperamos.

  3. Apesar de toda a propaganda mediática, o Níger tem instituições sólidas e competentes. 

  4. Uma capital atravessada por um rio, mas sem água nos bairros.  Um país com uranio, mas com 90% do território às escuras.  Muito visível para quem voa de Paris para Niamey.

Chade

2014-2016

  1. A dependência de um país em relação aos seus vizinhos é um aspecto que merece atenção diplomática, económica e administrativa, em particular as relações étnicas através das fronteiras e a necessária cooperação com o Sudão. Darfur, teatro permanente de genocídio étnico contra a população negra.

  2. Alguns campos de refugiados têm melhores serviços de saúde do que a população local.  A fusão de serviços seria a melhor forma de não separar populações e afim de beneficiar ambos.  Isso evita que serviços gratuitos acabem por inviabilizar a participação nos custos dos serviços  da população local. A importância do Compacto Global sobre os Refugiados deve ser reforçada.  Os  refugiados podem ser um recurso económico humano, e não apenas um peso social e político. 

  3. Soluções duráveis continuarão a ser ilusórias a não ser que a ideia do campo seja seriamente posta em causa.

Nigéria

2016-2019

  1. Um estado cujas instituições são incapazes de exercer o peso do país no contexto Africano ou global, excepto em questões militares. 

  2. A riqueza académica, a literatura[4], as diversas culturas. Um país intelectualmente muito rico.

  3. Estrangulamento económico da Nigéria por interesses capitalistas, ponto de pressão para estrangular a África. 

  4. As fontes de energia fóssil como a verdadeira razão da guerra do Biafra.  Não foi a secessão, porque esta, na Nigéria, não se limita ao Biafra. 

  5. Questões de energia determinarão as próximas guerras contra (e em)  África.


Jose,

Tete, Outubro d



e 2024

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