I- Introdução
Originando num desejo de reforçar a sua fé, surgiu na Paroquia de Nossa Senhora das Graças uma iniciativa de procurar formas de peregrinação ao Santuário dos Mártires do Uganda. Este desejo de 2023 realizou-se em 2024. por razoes logísticas, a organização desta peregrinação juntou as Dioceses de Tete e Lichinga, que por sua vez se juntaram a um grupo de peregrinos do Malawi, rumo ao Santuário de Namugongo, para uma celebração centrada no dia 3 de Junho, Dia dos Mártires. Por coincidência, esta peregrinação coincidiu com o sexagésimo aniversario da canonização dos Mártires do Uganda pelo Papa Paulo VI em 1964.
Estes quarenta Mártires, foram assassinados há 138 anos em Junho de 1886. Das figuras mais importantes deste grupo de Mártires, destacam-se as dos Santos Carlos Lwanga, Omuto Kizito e André de Kaggwa.
Para a efetuação desta peregrinação bendita, crédito se dê
A Senhora Judite e Sr. Kauwa, jornalistas da Radio Maria no Malawi, que vieram fazer uma cobertura de uma peregrinação ao Santuário do Zóbwe em Julho de 2023 e que mencionaram a possibilidade de facilitar uma tal peregrinação através do Sr. Nsalangwa, coordenador Malawiano dos Amigos dos Mártires do Uganda. Os contactos com o Sr. Nsalangwa foram determinantes nos preparativos logísticos que fizeram possível esta viagem.
Ao Padre Vital Adriano Conala (falecido a 07 de Abril 2024), Vigário-Geral da Diocese de Tete, que avalizou os preparativos da peregrinação.
E pastoralmente, ao Bispo da Diocese de Tete, Sua Excelência Diamantino Guapo Antunes, que autorizou e rezou uma bênção valeditória para esta peregrinação no dia 25 de Maio. Estava assim oficialmente iniciada a peregrinação.
II- Participantes/Roteiro
Os peregrinos de Tete seguiam a 26 de maio rumo ao Malawi para se juntarem aos peregrinos de Lichinga e do próprio Malawi, constituindo assim uma equipa única. Ao todo, participaram desta peregrinação duas nacionalidades: Moçambicanos (33) e Malawianos (21). Do grupo Moçambicano, a Diocese de Lichinga participou com 22 peregrinos, entre os quais quatro Irmãs da Caridade, e a Diocese de Tete com onze peregrinos, incluindo duas Irmãs da Caridade. De notar que a Diocese de Tete estava composta por representantes das Paroquias de S. José Allamano do Zumbo, e na cidade de Tete, das Paroquias de São Carlos Lwanga, São Paulo e Nossa Senhor das Graças.
A viagem de machimbombo organizada pelos irmãos do Malawi foi longa e penosa. Ela durou três dias de ida, partindo da Diocese de Zomba através do Malawi (com saída no posto fronteiriço do Songwe), Tanzânia (com saída no posto fronteiriço de Mutukula) para entrar no Uganda. Apenas se parava para as abluções matutinas e pequenas refeições de ocasião, viajando noite e dia. O roteiro de volta foi o mesmo. Uma viagem pouco cómoda e com refeições mínimas, com o propósito de dar à peregrinação um sentido de mortificação corporal, espírito de sacrifício que impregnou esta peregrinação.
III- No Santuário
PRIMEIRO DIA
Chegados ao Uganda, os peregrinos foram acolhidos no Centro Emaús, parte do complexo do centro de peregrinação, na Diocese de Nebbi. Este primeiro dia foi de descanso, com uma missa de chegada ao fim da tarde.
SEGUNDO DIA
Este foi um dia inteiro de retiro coletivo com os peregrinos do Malawi organizado pelo protocolo do Santuário e dirigido por um sacerdote Ugandês. O retiro terminou com a celebração de uma missa ao fim do dia.
TERCEIRO DIA
Visita ao Santuário de Munyonyo, lugar onde o Rei Mwanga II condenou os 40 mártires à morte. Foram os Missionários de Africa que após a sua morte, recuperaram os ossos dos Mártires. E iniciaram o Santuário. Foi também neste Santuário onde o Papa Francisco plantou a árvore da Unidade ecuménica com a Igreja Anglicana, na companhia de dois Arcebispos Anglicanos, porque cristãos Anglicanos faziam parte do grupo dos quarenta mártires condenados à morte pelo Rei Mwanga.
Abre-se um parêntesis aqui para sublinhar que o gesto do Papa e da sua contraparte Anglicana faz parte dos ensinamentos de amor do Papa Francisco, através do qual ele enfatiza a convivência cristã ecuménica[1]. O Papa sublinha repetidas vezes que a intolerância não favorece o respeito, a harmonia e a paz entre os homens, e que as características humanas que nos unem e identificam são muito maiores do que as diferenças que nos distinguem, tais como as culturas e cultas manifestações exteriores.
QUARTO DIA
IV- Celebração central (3 de Junho)
O leitor perceberá que um relato escrito não faz jus à vivencia emocional, espiritual e corporal ou mesmo visual do que se passou neste dia. Paciência. Não se pode sequer estampar mais imagens do oceano de peregrinos na celebração. Para se fazer uma ideia mais viva desta celebração, este relatório estaria cheio de imagens.
Este dia começou com uma vigília na noite do terceiro ao quarto dia (de 2 a 3 de Junho), no Santuário de Namugongo. Dada a imensa multidão, especulada em cerca de vinte mil fiéis peregrinos vindos de vários países, assim como o dispositivo de segurança necessário, foi um périplo que requeria uma organização difícil. Contudo, grandes painéis eletrónicos permitiram acompanhar a missa e as leituras, assim como os cânticos projetados nos grandes écrans.
A missa central foi um grande acontecimento que contou com uma animação de um grupo coral federado de 90 paróquias das várias Dioceses do país.
A missa foi celebrada no Santuário por 23 Bispos e 27 Diáconos, e contou com a presença de Yoweri Musseveni, Presidente da República do Uganda, e sua esposa.
QUINTO DIA
Este foi um dia de missa e visita a o Santuário de Namugongo, um pouco mais esvaziado de peregrinos. O regresso iniciou com uma visita curta a Kampala, capital do país. Da mesma forma que nos juntamos aos nossos irmãos da Diocese de Lichinga no Malawi, no Malawi nos separamos deles ao regresso (Lilongwe). Chegamos a Tete no dia 07 de Junho.
V- Conclusão e Mensagem
Os irmãos que pegaram na bengala do peregrino sentiram que tanto a viagem como os cinco dias de estadia no Santuário fizeram parte integrante da experiência peregrina. Tal experiência sublimou espiritualmente a fé como confiança na forca transcendental de Deus, e a Igreja Católica como templo de contemplação e veículo da relação individual entre o homem e o seu Criador. Sendo assim, a peregrinação é uma experiência pessoal profunda difícil de se transmitir.
A oportunidade que tiveram de tocar nas cinzas mortais dos Mártires do Uganda teve um impacto emocional e devocional intenso. Ao partilhar esta fé reforçada, os peregrinos encorajam outros fiéis que tenham a possibilidade, a realizar este tipo de peregrinação.
Uma peregrinação deste alcance no futuro é um investimento espiritual que infunde virtudes cristãs no peregrino, na sua família e na sua comunidade.
Observamos que a Igreja Católica no Malawi constituiu um núcleo permanente encarregado de organizar peregrinações anuais, chamado “Friends of Uganda Martyrs – Malawi” – Amigos dos Mártires do Uganda no Malawi. Esta organização tem uma mesa de Direção e é supervisionada por um Capelão Nacional que vela por todas as peregrinações do Malawi.
Efésios 2: 19 – Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois cidadãos dos santos e membros da família de Deus.
Diocese de Tete
Junho de 2024
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