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SATIRA ANONIMA DE UM AFRICANO PARA O SEU DIRIGENTE – AFRICANO, 2025

Uma análise brutal da mentira da soberania ilusória de África


Escantilhões: União Africana, CEDEAO, CEEAC:  quem paga as facturas destas organizações Africanas?


Faz de conta

que tu és um homem com uma esposa, dez filhos, uma casa e uma certa imagem de prestígio aparente na tua zona de residência.


E que, entretanto, a pessoa que matou o teu pai, violou a tua esposa, roubou a tua terra, queimou a tua aldeia,

  • é a mesma pessoa que ao fim de cada mês paga a tua renda de casa;

  • Ela é que compra a comida que enche a tua geleira;

  • Ela é que compra os cadernos e uniformes para os teus filhos;

  • Ela é que ornamenta e financia as festas da tua família;

  • Pior ainda: antes de tomares qualquer decisão na tua própria casa, procuras que ele valide as tuas decisões.


Ainda te atreves a dizer que és um homem livre!


É exactamente a situação da nossa União Africana (UA), da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC). Vamos aos factos; dolorosos, mas importantes para compreendermos a quantas andamos.

 

1.      A UNIAO AFRICANA


Em 2016, o orçamento da UA foi de 587 milhões de dólares, dos quais apenas 14% (82 milhões) foram financiamento dos países Africanos membros.

  • A União Europeia financia 90% dos programas de paz da União Africana (por outras palavras, é Macron  e outros colonos Europeus que decidem onde enviar uma força de manutenção da paz no nosso Continente).

  • Salários, viagens, custos de seminários dos grandes chefes da União Africana são cobertos por financiamento estrangeiro.

  • O elegante edifício da União Africana em Addis Abeba foi financiado, construído, equipado e oferecido pela China ao Continente Africano (por sinal cheio de sistemas de escuta remota e espionagem electrónica ligados naquela altura a Shanghai).


Que resultado esperar deste estar de coisas

  1. Em caso de conflito no Sahel, no Congo, no Sudão, na Somália?

  2. Quando a União Africana convoca reuniões, toma decisões e fica à espera que a União Europeia ou as Nações Unidas tomem uma posição sobre as tais decisões, uma vez que são eles que vão financiar?

 

2.      A CEDEAO


Em 2022, mais de 63% do orçamento de funcionamento da CEDEAO foi financiado pelos “parceiros” estrangeiros (até a palavra parceiro se tornou uma piada perversa e de mau gosto).

  • Uma grande parte dos projetos de desenvolvimento (assim chamados), de segurança e de governação é concebida, redigida e dirigida pelos doadores ocidentais e seus consultores.

  • Enquanto o Níger, o Mali e Burkina lutam pela sua soberania, a CEDEAO age como o braço armado de Paris e Washington para restaurar o neocolonialismo francês nestes países.  Pretextando a democracia.  Claramente “democracia” passou a ser um cavalo de Tróia” para outros fins: exploração desenfreada, contínua e barata dos nossos recursos, exploração essa protegida por elites eleitas democraticamente.  Que privilegiam vias de acesso ao mar mais do que vias de acesso internas.

 

 

3.      A CEEAC


Conheça a CEEAC, outra organização sub-regional sustentada por donativos e com a intenção declarada de ser uma organização que congrega os países da Africa Central.  Mal financiada pelos seus membros, que apenas contribuem com 0,4 % do seu orçamento.


  • Em 2020, a CEEAC anunciou com toda a pompa que iria mobilizar cerca de 2,5 biliões de Euros para os seus projectos. E a quem pediram este dinheiro? Países que são exportadores de petróleo e gaz, diamantes, madeira, peixe e ouro, foram pedir à China, à UE, à BAD, ao Banco Mundial.

  • Mesmo a Missão de Paz na República Centrafricana é financiada e gerida pela União Europeia.Por outras palavras, tu dormes na tua casa, mas é o teu inimigo jurado que comprou a cama, paga a iluminação e te diz a que horas é que podes dormir.


A CEEAC se parece mais com uma caixa de correio da ajuda internacional.  Sem coragem nem imaginação, ela torna-se numa dependência organizada com verniz diplomático, uma enorme vergonha administrada por nós.  Uma anedota geopolítica.


Acha que isto é sério? Não são projectos africanos, são ordens e financiamento estrangeiros.

Sejamos corajosos: estas organizações não representam a tal diplomacia africana coletiva.  É uma aberração institucional.


Enquanto o nosso diplomata viaja em aviões, bilhete financiado pela União Europeia, dorme num hotel pago pela Franca, para se levantar e ler um discurso escrito por um Consultor Belga salariado da USAID,

? Queremos que a Africa seja respeitada?

? Queremos ser escutados nas Nações Unidas, nos G20, nas instâncias internacionais?

? Pretendemos entrar no clube permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas?


A África encontra-se armadilhada numa relação de dependência financeira tão humilhante como uma mulher vítima de agressões repetidas, que todas as tardes volta à casa do seu agressor porque não tem meios para pagar a renda de um apartamento para passar as noites.

  1. Enquanto forem os antigos colonos que financiam as nossas «soluções africanas»;

  2. Enquanto forem os seus bancos a aprovar os nossos planos de integração;

  3. Enquanto forem os seus técnicos que formam os nossos diplomatas e formulam as estratégias que devemos meramente aceitar e executar (estratégia estrangeira, dinheiro emprestado - para devolver- para a execução de uma estratégia que não é nossa, no nosso território!)


Continuamos a ser escravos bem vestidos, expressões  vivas da impotência colectiva.

Chegou e mais do que chegou a hora do financiamento africano para as instituições africanas.


Ouçamos a juventude Africana que se levanta em muitos países: Burkina, Mali, Níger, Quénia, Moçambique, …  O que estão os jovens dizendo?  Sem querer interpretá-los, consideremos que

  • A Africa tem mais de 420 milhões de jovens activos.

  • A diáspora Africana envia para o Continente mais de 90 biliões de dólares por ano.

  • Os nossos países arrecadam biliões em exportações, mas recusam-se a contribuir de forma séria para o financiamento das suas próprias instituições continentais e sub-regionais.

  • Quem nos financia quer ter poder de decisão sobre o que devemos fazer com o seu dinheiro.

 

Vejamos as coisas de frente: um escravo dócil não financia nunca as suas algemas.  Apenas as aceita, as limpa e acaba por adorá-las.


O jovem Africano concluiu, à revelia dos discursos oficiais, os quais ele não escuta mais,

  1. Que nós não temos necessidade de ajuda, se as migalhas que recebemos se podem chamar “ajuda”.

  2. Que temos é necessidade urgente de romper brutalmente este estado miserável dos nossos povos, dos nossos países.  Romper não é negociação.

  3. Que a União Africana deve cortar o cordão da mendicidade;

  4. Que a UA deve aplicar a reciprocidade diplomática: A UA tem deveras algum estatuto de observadora nas reuniões e cimeiras da União Europeia, etc?  Porquê então todos estes observadores padrinhos nos bastidores das cimeiras da UA?  Será porque pagam contribuições?

  5. Que a CEDEAO e a sua congénere CEEAC deixem de ser o prolongamento local da OTAN.

  6. Que os nossos presidentes paguem as suas dívidas históricas, em vez de assinar cheques para os seus mestres.


Ou então, deixemos de falar de soberania e passemos a falar de dependência confortável, de escravidão voluntária, de fraqueza geopolítica fatalista.


Esta mensagem dura é destinada, não àqueles que nasceram na ignorância fomentada, cresceram, vão se casar, viver e morrer sempre no ciclo da pobreza promovida e sustentada, apesar das riquezas dos seus países.


É um texto para aqueles que querem ajudar os que dormem a acordar. Os que tem o dever, poder, vontade, coragem, e inspiração ao sacrifício e que querem exercer esse poder nesse sentido.


Caro leitor, faz com que cada Africano compreenda que a verdadeira libertação vai começar quando deixarmos de estender a mão e passarmos a financiar nós próprios as nossas actividades e projetos, as nossas necessidades e as nossas emergências. 


Devemos ter chegado à posição de gerir as emergências como algo de que temos conhecimento acumulado que nos ajuda a prever o que não deve continuar a ser surpresa.  Temos os registos históricos.  Porque seria surpresa por exemplo no nosso país um surto de cólera ou uma seca?  Ou, como um país costeiro, um tufão marítimo ainda será novidade sobre a qual vamos pedir ajuda?


Cair pode ser um acidente. Mas ficar prostrado no chão já não é acidente.  É uma escolha. Uma opção. Uma atitude.

 

Traduzido e adaptado

Canhandula

Tete, Junho de 2025


 
 
 

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