I- INTRODUCAO
No mês de Abril deste ano, O General Lecointre, antigo Chefe de Estado Maior das Forcas Armadas da Franca, portanto, parte do estabelecimento Francês, falou de uma reconquista de África pela força das armas, incluindo a possibilidade de uma força conjunta Europeia.
Fica claro, em primeiro lugar que a reafirmação de um plano de reconquista daqui a dez anos, exprimindo abertamente a sua lamentação pela retirada do Sahel das forcas francesas não só esta impregnada de desprezo pelos Africanos, mas indica claramente e sem rodeios que os interesses económicos da Franca e da Europa em Africa só podem ser defendidos através da subjugação do Continente. Diz ele: “A Europa deve defender os seus interesses em Africa e decidir dos destinos de Africa, incluindo pela força das armas”.
Para justificar a sua posição, ele utiliza vários argumentos profundamente paternalistas e falaciosos, tais como
a incapacidade de Africa de manter as suas estruturas governamentais,
a guerra civil em muitos países,
desafios climáticos, e
uma futura explosão demográfica do Continente, que irá perigar a prosperidade da Europa.
Vejo-me no dever de chamar a atenção dos nossos dirigentes, se por acaso se acharem longe do Sahel, para estes discursos sinistros que não escondem as intenções reais, não só do General, mas também e sobretudo da França e da Europa, e não só. A presença militar estrangeira já tem sementes nalguns países, e faz parte de uma invasão silenciosa, que cresce até que venha a ser suficientemente grande para ser irresistível. Quando nos dermos conta, já será tarde.
E não se trata apenas do Sahel. Trata-se de todo o espaço Africano onde haja recursos dos quais depende a sobrevivência de uma Europa habituada a níveis de vida superiores aos seus meios: o gás, o peixe, o petróleo, os minerais estratégicos, a terra arável. A Africa representa também para a Europa um mercado prisioneiro das suas indústrias farmacêuticas e de produtos de segunda mão ou reciclados. Por isso não e do seu interesse a industrialização do Continente Africano.
II- PREPARACAO PARA UMA GERRA DE INTELIGENCIAS
Não precisamos de dizer que nos devemos preparar para uma guerra de disputa do controlo dos nossos recursos. Devemo-nos lembrar sempre que a sobrevivência da Europa e a manutenção dos níveis de vida muito altos a que ela se habituou depende de nós. E a nossa? E o nosso desenvolvimento?
Tratar-se-ia porventura de fechar o nosso espaço? De jeito nenhum porque isso provocaria um apocalipse e uma invasão militar descarada e imediata, porque a Europa estaria condenada a morrer de frio e de fome. De jeito nenhum porque isso nos paralisaria comercialmente e economicamente
Trata-se sim, de defendermos com mais afinco e profissionalismo, e com uma visão futurista para o nosso povo, os nossos interesses nas discussões sobre a utilização, exploração e exportação dos nossos recursos.
Trata-se de despartidarizar a gestão da coisa pública, afim de unirmos forças humanas e talentos nacionais: de combatermos a exclusão no mercado do emprego por divergências políticas, para podermos formar uma frente nacional de produção comum.
Trata-se de formação técnica propositada, intensiva e massificada do nosso povo nas diversas áreas técnicas e tecnológicas que nos permitirão, não só re-industrializar, mas também inventar.
Liderança, liderança, liderança. Trata-se de liderança que escuta e indica o caminho, não se trata de chefia. Trata-se dee pôr fim à privatização da economia nacional por oligarcas nacionais.
Trata-se de estarmos alertas a aquisição estrangeira de terras, agora sob pretexto de um suposto mercado do carbono que ninguém controla ou sabe medir, um novo colonialismo de terras que já esta em curso na Tanzânia, Kenya, Sudão, Etiópia, Somália, Libéria, Zimbabwe, etc.
III- OU SE TRATARÁ DE PERMANECERMOS CONDENADOS
Precisamos de nos referir sempre à história para nos lembrarmos que a Europa é um Continente muito violento: da escravatura, ao colonialismo, aos massacres coloniais até às duas grandes Guerras Mundiais. Mais do que mundiais, foram guerras europeias. Basta-nos lembrar da capacidade desses países agressores de destruir outros países como o fizeram na Líbia, no Iraque, no Afeganistão, em Haiti. Sob o pretexto de “responsabilidade de proteger” utilizando o pretexto das Nações Unidas, e assistidos de uma imprensa vocífera, alarmista e diabolizadora, primeiro destruíram a Líbia e assassinaram o seu dirigente, Muhammar Kadhafi, para dois anos mais tarde, virem do outro lado a pretexto de combater o terrorismo no Sahel, terrorismo este que eles próprios criaram e armaram ao abrir os poderosos arsenais do Coronel Kadhafi. Ficaram no Sahel doze anos, explorando o ouro do Mali e do Burkina Faso, depois de acarretarem as reservas de ouro do Banco central da Líbia! Se não tinham sidos expulsas do Sahel, estas forças militares estrangeiras estavam-se desdobrando.
Líbia: petróleo, ouro, nada a ver com a Resolução 1973 (Marco 2011) das Nações Unidas sobre a responsabilidade de proteção.
Está claro que ninguém, nem a Europa, nem a América, nem a Asia, deixarão a Africa sozinha. Este Continente é demasiado importante para a sobrevivência do planeta. As poucas florestas que restam, para alem da Amazónia, estão em Africa. As terras aráveis que restam estão connosco.
Como se exprime então a nossa soberania neste marasmo de interesses capitalistas estrangeiros? Questão crucial, especialmente em países onde a exclusão política por parte de partidos cuja função principal passou com o tempo a ser a defesa dos interesses económicos de uma elite. Isto abre espaço para o capital internacional encorajar oligarquias e corrupção com mais dinheiro, mais endividamento, a oferta de financiamentos nas vésperas das eleições com intenções claríssimas, mas não declaradas: Manter o status quo.
IV- CONCLUSAO
Não estamos preparados. Mas temos tempo, temos capacidades e somos soberanos.
É do interesse da nossa sobrevivência como nação independente e soberana seguirmos atentamente os eventos históricos que abalam a Africa Ocidental e que são preconizados pela juventude no Mali, Burkina Faso e Níger: Chega de oligarquias vendidas ao ocidente. Chega de aliciamentos financeiros, porque temos os nossos recursos e podemos desenvolver o nosso país.
O jovem Africano compreendeu e está a dizer isso todos os dias na televisão e nas redes sociais. Quem tem ouvidos que ouça, e quem não tem mas quer ouvir, que tome as suas disposições para ouvir[1].
O imperialismo compreendeu isso e sabe que o que aconteceu no Níger, Burkina e Mali vai-se alastrar. A expulsão das forcas militares francesas e das Nações Unidas e agora dos Estados Unidos do Mali, do Burkina Faso e do Níger, surpreendeu aqueles que nos consideram vassalos e faz-lhes mal. Estão por isso a inventar novas formas de voltar à carga e se agarrar: mais aliciamento financeiro, mais promoção e manutenção do terrorismo para justificar a sua estadia contínua entre nós, enquanto estuda outras formas de expansão da presença militar. Preparemo-nos para uma guerra que vai ser inteligente e violenta.
Enquanto nos excluímos por razões ideológicas, enfraquecemo-nos cada vez mais. Em situação de fraqueza, a reconquista de partes do nosso território por forças estrangeiras não é uma ilusão, é uma possibilidade, sobretudo que utilizam também máscaras africanas para o fazer.
Deixo aqui estampada a minha angústia como Moçambicano. E o meu apelo. E quem fala de Moçambique pode estar a falar de qualquer estado Austral ou Oriental, ou Ocidental, ou Central, dos que conheço.
Jose,
Tete, 08 de Maio 2024
[1] https://youtu.be/gkT-XWDQa94?feature=shared Infelizmente uma discussão longa e em Francês. Mas a mensagem da juventude Africana é claríssima: Não.
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