HONESTIDADE, um dos maiores desafios de África
Documento escrito por Karim KONE, antigo Diretor Executivo do BRS (agora conhecido por ORABANK) Burkina Faso
Tradução de Antonio Jose Canhandula
Eu tinha o habito de criticar as empresas Africanas tais como as do Grupo Dangote, por recrutarem tantos Indianos enquanto temos tantos Africanos desempregados. Agora compreendo o seu dilema penoso.
O grande problema dos nossos negócios, sejam eles de manufatura, sejam de comercio ou produção, não é, nem a infraestrutura nem a energia: o maior problema é conseguir empregar trabalhadores honestos.
Cada vez que empregamos alguém, esse alguém parece estar numa missão de roubar: sobrefaturar ao máximo, registar menos produtos do que os produzidos. O pior é que a fraude não e cometida por uma pessoa: normalmente são vários trabalhadores em conluio, desde a produção, a passar pela venda e contabilidade. Inclui até membros de direção.
Tive que mexer o meu pessoal de direção três vezes num único ano. Era tão má a situação que a um certo ponto, os meus critérios de emprego deixaram de ser a competência ou habilitações acadêmicas, e passaram a resumir-se na: honestidade. A capacidade e a perícia podem ser adquiridas, mas uma vez que se é desonesto, já está fora da possibilidade de correção.
Imagine que este grande desafio Africano estivesse fora da equação….
Passamos o tempo a queixar-nos sobre a economia e a falta de emprego. Conheço pessoas na diáspora que desejariam empreender negócios criadores de emprego em África, mas que não o fazem porque não encontram ninguém em quem possam depositar confiança e que possa gerir tais empresas. Existem pessoas em África que tem muito dinheiro e que podem abrir fábricas e outros negócios criadores de emprego, mas que não o fazem porque estão ocupados noutro sitio e não podem encontrar pessoas em quem possam confiar plenamente para gerir os seus negócios. Assim, em vez de investirem em setores produtivos, e de criarem empregos, passam a vida a comprar ações e letras do tesouro, enquanto os ladroes fazem barulho sobre a falta de emprego e de comida.
Estou cada vez mais convencido que grandes empresas tais como as do Grupo Dangote podem estabelecer-se em qualquer país Africano e criar milhares de empregos. Contudo, tenho a certeza de que a corrupção e a desonestidade ao nível mais alto das instâncias governamentais é o conjunto de condições que lhes impede de ajudar a África. A África podia dar origem a muitas empresas de grande envergadura, mas não podemos porque não existe confiança.
Esta é uma vantagem que os Indianos e Libaneses tem sobre nós em África. Eles são capazes de mobilizar e juntar recursos e fazer grandes empreendimentos. Não é a nossa cultura. E porque não Podemos nos associar, uma pessoa vê-se obrigada a fazer tudo. Por isso acabamos fazendo pequenos negócios.
O mesmo se pode dizer de irmãos. O encerramento dos supermercados na África Oriental (que poderiam até se transformar em African Walmart) é um exemplo edificante de como os irmãos não podem fazer negócio juntos.
São muitos os exemplos de furto nos empreendimentos em África:
Abra um negócio de criação de galinhas e os seus empregados passam a roubar ovos. Outros até vão matar as galinhas para serem autorizados a levar galinhas mortas para casa.
Abra um negócio de entretenimento, cinema ou jogos, os seus empregados passam a furtar dinheiro. Enquanto estiveres presente, o dinheiro que vais arrecadar é dez vezes mais do que o dinheiro que recebes se não estiveres presente. Os empregados passam o tempo a dispender o teu dinheiro e a consumir o futuro deles.
Compre uma viatura e confia-a a um motorista, e fica a olhar como ele acaba consigo.
Abra um restaurante, e a mesma coisa acontece. Mais de metade dos ingredientes e condimentos acabam por aparecer nas cozinhas deles.
Abra uma pequena loja e os seus empregados acabam por fazer meios para roubar dos pequenos investidores.
O pior é que se atrevem a gabar: se não pode supera-los, junta-te aos ladrões.
Imagina a cara deles ao justificarem a roubalheira no trabalho, acabar com o seu próprio emprego e com o desenvolvimento de África!
Vais ver como eles apontam com o dedo torto as figuras políticas, enquanto eles não são diferentes....
Acredito que a razão pela qual muitos Africanos não roubam biliões de dinheiro do governo é simplesmente a falta de oportunidade.
Com a desonestidade, o desenvolvimento não é possível.
Vai aí a minha exortação aos poucos Africanos honestos, no governo ou no setor privado, que são considerados estúpidos: Tu não és estupido. És exatamente o exemplo de que a África precisa urgentemente.
Outrossim, como é que nos vamos desenvolver, se aqueles que devem supervisar e gerir as nossas lojas, quiosques, supermercados, fabricas, escolas, hospitais, serviços de água, construção de estradas, limpeza das ruas, gerência de estacoes elétricas, frotas de autocarros, coleta de parqueamento e portagens, construção de prédios, etc, são precisamente aqueles que conspiram para defraudar os pequenos investidores locais, o governo e investidores estrangeiros?
De que forma nos podemos de desenvolver quando os diretores das nossas escolas são os mesmos que planejam roubar equipamentos e materiais escolares, propinas e comida das cantinas escolares, etc?
Como podemos melhorar a situação dos nossos hospitais enquanto os empregados do hospital são os mesmos que roubam medicamentos, camas, mantas, comida e dinheiro de consultas? Como assim? O nosso querido Continente está de luto.
Como é que a África pode crescer quando as pessoas responsáveis por garantir e fazer cumprir os padrões e reduzir custos, são os mesmos que conspiram com empreendedores locais e estrangeiros para exagerar os custos e reduzir a qualidade do trabalho, afim de poderem roubar o dinheiro público para seu proveito individual?
A todos os níveis, os Africanos são o verdadeiro problema de África e a honestidade começa na liderança.
Na minha opinião, a razão porque o Rwanda é apresentado como um exemplo em África, é o facto de que o povo do Rwanda e os investidores e seus parceiros de desenvolvimento estrangeiros sabem que a liderança do pais ao mais alto nível não aceita nem entretém desonestidade, seja no setor público, seja no privado. Devemos replicar tais padrões de liderança ao nível continental. Imagina só que tivéssemos 54 Paul Kagames em todos os países Africanos! Admira-lhe que os chamados países ocidentais não gostem desse exemplo? Eles sabem que dentro de 10 anos a África seria o Primeiro Continente. Devemos despertar e repensar o modelo de África.
Independentemente do tipo de trabalho: desde o varredor de ruas ao artista, o caixeiro, o armazenista, o condutor, o colhedor de folhas de chá ou café, o chefe de compras, o governador, o enfermeiro, o doutor, o cozinheiro, o pintor, o construtor, o membro do parlamento, o Ministro: o Africano deve ser honesto, por amor a África-Mae
Ao sermos desonestos, violamos e violentamos o Continente Africano. Os estrangeiros sabem e estão muito ao corrente da nossa desonestidade. Eles desembarcam em África para roubar os nossos recursos naturais imensos sem dó nem piedade e deixam umas migalhas nas mãos daqueles Africanos encarregados de gerir os nossos países. Tudo isto contra o nosso desenvolvimento e autossuficiência. Quem nos salvará de nós próprios? A África pode erguer-se. Que se levante então! É tempo de ser contado na plataforma internacional. É tempo de MUDAR o paradigma mental.
FIM
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