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O SENTIDO DA ORACAO PARA MIM

Writer's picture: canhandulacanhandula

Apresso-me a dizer logo à partida que este artigo livre não tem como objetivo, nem de converter, nem de obter concordância da minha perspetiva espiritual ou ponto de vista, mas de passar mensagens sociais para um país com muita chefia e pouca liderança.

 

Na minha essência humana e na minha educação, dentro de minha família, especialmente o meu falecido pai, e na Missão da Fonte Boa, Tete, onde fui educado na tenra idade e de onde sai moldado com certa disciplina, eu sou um ser que crê numa entidade superior misteriosa que está acima de tudo e de todos.  Ele criou tudo.

 

Nas nossas aldeias existem rituais tradicionais que exprimem essa fé, rituais esses que foram desprezados, desencorajados, reprimidos e finalmente combatidos pelos colonos e missionários Portugueses.  Foi assim que nos recrutaram para a fé cristã, católica, apostólica, romana.  Eu fiquei encalhado nessa, que aceito sem arrependimento.  Contudo, penso que as nossas crenças Africanas merecem de nossa parte uma pesquisa antropológica aprofundada, afim de serem instrumentos de expressão da nossa fé adquirida, afirmarmo-nos na nossa fé e na nossa cultura ancestral de maneira que a fé e a cultura não se excluam mutuamente na mesma pessoa.

 

Estou 99% convicto de que se tivesse nascido no Mali, ou no Senegal, ou em Zanzibar, ou ainda nas Ilhas Comores, a minha crença e a minha fé teria sido a Muçulmana.  Se fora nascido e educado na India, eu seria Hindu, mutatis mutandis.  Na essência, acreditaria ainda e sempre num ser superior.  Ou em vários seres superiores, como o meu irmão indiano. Durante a minha vida, fiquei convencido de que não existe muito ser humano ateu que não acredite nesse ente superior. 

 

A minha primeira mensagem é que a fé humana é universal e se expressa de formas diferentes, mormente inculcadas pela cultura local.  O respeito por todas as fés deve ser matéria de educação pública alargada.  De contrário, vamos continuar a assistir à queima do Al Qurhan como se faz ainda na Europa.  Esses gestos execráveis geram o ódio e podem levar à guerra, trazendo de volta o espetro das guerras santas, tais o Jihad[1] e as Cruzadas[2].

 

Hoje devemos repudiar a falta de respeito por outras crenças e fés, afim de evitarmos conflitos no mundo.  Já basta que a nossa maneira de gerir a migração de jovens entre países obedeça a uma filosofia alheia e contrária aos nossos interesses como países vizinhos.  Isso porque a Europa tem medo de uma avalanche inevitável.  Essa avalanche, tal um tsunami imparável, vem aí, queiram ou não, porque a Africa é uma maioria humana que cresce inexoravelmente.  Impõem-nos, dizia eu, uma gestão da migração que criminaliza movimentos transfronteiriços naturais de pessoas que procuram melhorar a sua sorte na vida.  Assim, parecendo diferentes e sem ligação, e com ajuda de uma imprensa subsidiada ao serviço do capital imperialista, migração e religião constituem, com outros elementos da tigela, uma mistura designada a inferiorizar, demonizar e rejeitar outras culturas.  Estejamos vigilantes.

 

A minha segunda mensagem é: Trabalho.  Eu acredito nesse ser superior que chamamos Deus, Allah, Brahma, Vishnu, Shiva e outros nomes.  Mas também acredito que esse ser superior deixou em nós a semente que nos permite dominar a terra e sobreviver, a força e autoridade para utilizarmos a natureza que ele nos deixou, afim de podermos melhorar as nossas condições de vida[3].  Muito mais do que passar a vida a pedir milagre e ajuda e depender dessa ajuda para nos dar sorte, trabalho, saúde e prosperidade enquanto nos abandonamos apenas à contemplação.  Esse ser superior dotou-nos de inteligência.  Para alem da inteligência, na sua graça ele decidiu criar uma Africa impregnada de recursos que não tem igual noutros Continentes: água imensa (apesar das nossas peripécias de falta de água em muitas casas, a cidade de Tete é dividida e regada por dois rios perenes, belos e grandes), terra arável que até a Africa está a vender para outros trabalharem nela (em troca de umas migalhas monetárias que sao de imediato amealhadas por uma elite local), minerais descobertos e por descobrir, e acima de tudo uma população prestes ao trabalho.

 

Diz-se que a Africa é um dos maiores continentes, ao contrário do que os mapas ocidentais nos querem fazer acreditar, ao desenhar um mapa distorcido.

 

Sendo assim, a nossa miséria tem outra explicação e não se compreende.  Melhor ainda, compreende-se, mas mais do que chegou o tempo de mudar de mentalidade, de atitude e de comportamento.  Trabalho disciplinado e árduo: quem nos leva para esse estado?  A Africa continua a ser a sede da pobreza, do atraso industrial e da mendicidade.  Décadas depois das independências, continuamos com uma mente capta pelo capital internacional que também exporta para nós um Deus mais recente, fazendo do nosso Continente o que mais reza a Deus. A China não é cristã, nem é a India ou o Japão ou a Singapura.  Mas são países muito mais prósperos.


Quando é que teremos a consciência de que os nossos dirigentes são o nosso impedimento, apesar de que Deus nos deu tantas riquezas naturais que não podemos explorar?


Que Deus é esse que tem o dever de continuar a pegar-nos pela mão depois de nos dar tudo isso, incluindo inteligência e discernimento individual?


A nossa mentalidade deixou de ser crítica e os talentos que nos foram dotados por esse Deus não utilizamos de maneira eficiente e plena.  Ou nos refugiamos na igreja porque o chefe político fechou o espaço para a iniciativa e a invenção e o trabalho honesto do jovem.  Em vez disso, voltamos para o mesmo Deus pedir que faca descer o milagre: pedir a terra, a enxada, a chuva, a comida, e já agora, pedir o milagre da prosperidade.


Minha terceira mensagem é uma iteração e reiteração da segunda: estou convencido de que o trabalho honesto e árduo é também uma forma sublimada de oração.  Uma oração produtiva porque nós próprios como pessoas já somos o milagre que procuramos.

 

Devemos por fim denunciar essa indústria global que nos quer fazer crer que somos inferiores e condenados

  • a ser pobres, miseráveis e mendigos e espetáculo para benfeitores que estão à espera de desastres naturais nos nossos territórios,

  • a sofrer inundações cíclicas que sabemos prever e poemos prevenir se a inércia for superada,

  • a pedir dinheiro para fazer a nossa própria guerra, e a pedir dinheiro para equilibrar os nossos orçamentos nacionais. 

  • E toda uma ladainha longa e lamentosa entretida pelo capital internacional.

 

Quem nos disse que somos pequenos e pobres?  Em vez de saltitar a pedir a Deus que nos traga a riqueza, não se sabe bem de onde, esses crentes no vídeo deviam era pedir, até mesmo exigir, dos seus dirigentes, não de Deus, um técnico agrícola e um financiamento não exploratório para trabalhar frutuosamente as terras que eles estão a bater clamando por Deus! 

 

Teríamos trigo suficiente para não ir mendigar à Ucrânia, um país que está numa guerra desesperada e suicida!  Não sei se eu teria a coragem, como dirigente, de ir pedir ajuda a um moribundo. Deixando para trás um vale do Zambeze, um Vale do Limpopo, toda uma Zambézia e um Niassa enormes! E que mais se pode inventariar em Moçambique?

 

Um pequeno desvio da mensagem principal: Falando de cultura e fé como um duo inseparável, a Igreja católica apostólica Romana, para mim, tem um problema ao continuar a chamar-se Romana.  O nosso líder supremo, o Papa vive e trabalha e dirige-nos a partir de Roma.  A fé católica expandiu-se a partir de Roma, mas isso foi há muitos seculos.  Hoje, gostaríamos de continuar a seguir as encíclicas de Roma, mas me parece que continuar a chamar a nossa igreja de Romana, é um pouco arcaico, insensível e contradiz o caráter universal e apostólico que a Igreja hoje alcançou.  Há mais católicos em Africa do que na Europa.  Faria sentido deixar cair a denominação de Romana.  Um parenteses oportunista que não vem ao caso

 

E para reforçar este argumento pessoal sobre a oração, faço minha a opinião emitida no artigo de comunicação social que pode visitar apoiando AQUI 


 

 

Jose

Tete, Moçambique

30 de Abril de 2024




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